quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O doce pelo amargo.

São Paulo. 6 da tarde. Carros, fumaça, confusão, pessoas. Muitas pessoas. São milhares de rostos indo e vindo, passos apressados, respirações ofegantes, olhos cansados, vozes, conversas, palavras. Muitas palavras. O dom da fala sendo concedido ao ser humano. E no meio de tantas vozes:
-Ei, tio! Quer comprar um chocolate? Compra aí, tio, um só pra me ajudar.

O chocolate trocado pelo dinheiro. O doce pelo amargo. O dinheiro, o poder da moeda, o papel que o papel tem. O dinheiro manda no mundo. Somos movidos pelo capital, nascemos, vivemos, trabalhamos, envelhecemos, morremos por ele. Matamos por ele.

Um mundo sem sentimentos, sem humanismo, sem emoções.

Ah, emoções.

Não há mais lugar para sentimentalismo, estamos ocupados demais para isso. São anos que passam como dias, as horas voam e o mundo..bem, esse já não é mais o mesmo.

Estamos em uma nova era, a era da tecnologia. A praticidade impera. As vantagens do mundo virtual. As máquinas, tão desenvolvidas, ainda nos permitem pensar que estamos no comando. Ninguém é insubstituível, ainda mais quando lidamos com alguém de metal.

O metal. As indústrias, os produtos, as produções. Plantar para comer? Coisa do passado, do tempo em que ainda havia (mesmo que pouca) terra para isso. Alimento? Só industrializado. Natural é um termo do passado. Referia-se a tudo aquilo que vinha da natureza.

Natureza? É do meu tempo. Eu ainda lembro daquela paisagem.

Ah, emoções.

As visões do novo mundo, do futuro que nos aguarda. Como pudemos chegar a esse ponto? Como permitimos que nosso mundo se transformasse tanto?

Questionamentos que não saem da minha cabeça nesse fim de tarde em São Paulo, cercado por carros, fumaça, confusão e uma voz que me chama de volta:

-Tio! O chocolate! Vai querer ou não??

Ah, emoções. E ainda dizem que nós, homens, somos insensíveis!



Texto de minha autoria.

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